Todos os dias entro em sala de aula com o mesmo olhar curioso de quem ama ensinar, mas também com o coração apertado. Vejo ali, diante de mim, jovens com brilho nos olhos, com sonhos enormes, talentos latentes, e… paralisados. Não por falta de capacidade, mas por algo mais sutil, mais traiçoeiro: o excesso de estímulos que rouba a atenção, a motivação e, principalmente, a capacidade de recuperar o foco.
Este não é um texto de acusação. Não estou aqui pra culpar as redes sociais, os algoritmos ou a tecnologia. Também não sou psicólogo. Sou professor. E o que compartilho aqui é o que vejo, o que vivo e o que me inquieta.
A era do foco perdido
Um dia desses, uma aluna me disse: “Professor, eu tento estudar, mas meu dedo abre o TikTok sozinho.”
Aquilo ficou comigo. Porque não é falta de vontade. É um conflito entre querer e conseguir. A mente dela — e de muitos outros — está travada por uma hiperestimulação constante que a impede de mergulhar em tarefas simples como ler um livro ou escrever um parágrafo.
Estamos vivendo o que chamo de “a era do foco perdido”.
A juventude quer crescer, se desenvolver, criar. Mas é como se o solo estivesse contaminado com distrações tão doces quanto nocivas. Cada like, cada vídeo curto, cada notificação é uma microdose de prazer que treina o cérebro a viver de migalhas, enquanto sonhos maiores, que exigem tempo e esforço, parecem cada vez mais distantes.
E não são apenas os jovens que estão dominados por essa hipnose das redes sociais. Uma massa de adultos, de todas as profissões, também se vê nessa dificuldade de manter o foco — seja em uma atividade, em uma tarefa ou em um projeto. Isso, na minha visão, coloca toda a humanidade em risco.
Sei que pode parecer exagero, mas, desde que o mundo é mundo, resolvemos os grandes problemas da humanidade com foco naquilo que realmente importa — com estudo profundo, com mentes direcionadas a questões complexas, a fim de solucioná-las. Hoje, ao olhar para um futuro não muito distante, pergunto-me: “Quem irá resolver os problemas complexos da humanidade?”
Sem foco, improdutivos, dominados pelo supérfluo, habituados ao raso, temo que estejamos, de fato, em risco.
O grande vilão disfarçado de recompensa: a dopamina
A dopamina é o neurotransmissor do desejo. Ela nos move, nos dá aquele impulso inicial para agir. Mas quando esse impulso é constantemente acionado por estímulos fáceis — como feeds infinitos, vídeos de 15 segundos, mensagens instantâneas — a balança interna se desregula.
Estudos científicos já apontam como a dopamina se comporta diante de recompensas rápidas, como pode ser visto nesta publicação da National Library of Medicine.
O resultado?
Tédio vira rotina, foco vira exceção, ansiedade vira o novo normal. E aquela vontade genuína de realizar algo vira apenas uma lembrança.
O sistema de recompensa do cérebro fica viciado no caminho mais curto. E o caminho longo, aquele que leva à construção de um projeto de vida, parece árido demais.
Esses são alguns dos sintomas de uma geração sobrecarregada
É cada vez mais comum ouvir desabafos como:
- “Nada me prende mais do que cinco minutos.”
- “Começo as coisas com empolgação e abandono no meio.”
- “Sinto que estou cansado o tempo todo, mesmo sem fazer nada.”
- “Não consigo mais ler um livro. Parece que a cabeça não coopera.”
Esses relatos não são preguiça. São sintomas de uma geração dopada por estímulos fáceis e rápidos. É um padrão de comportamento automático, disfarçado de distração, que mina a nossa capacidade de lidar com o silêncio, com o tédio, com a profundidade — e com isso, se torna cada vez mais difícil recuperar o foco.
O que podemos fazer? (E o que tenho tentado fazer)
Como educador, não posso oferecer fórmulas mágicas. Mas posso propor caminhos. E tudo começa por reconhecer que não é uma questão de força de vontade, mas de ambiente. Se queremos recuperar o controle, precisamos mudar as condições à nossa volta.
Aqui estão algumas práticas que tenho sugerido e experimentado:
1. Detox digital diário para recuperar o foco
Reserve 2 horas por dia sem celular.
No começo parece estranho. Mas é libertador.
Use esse tempo para ler, caminhar, conversar ou simplesmente ficar em silêncio.
Esse espaço sem ruído é essencial para recuperar o foco e limpar a mente.
2. Silêncio intencional
Ficar 10 minutos em completo silêncio pode parecer inútil, mas é um exercício poderoso. É nesse espaço que o pensamento profundo começa a se reorganizar.
3. Recompensa ao esforço
Em vez de esperar prazer imediato, treine-se a recompensar o esforço: terminar uma leitura, concluir uma tarefa, criar algo.
Essas pequenas conquistas constroem uma motivação mais duradoura e ajudam a recuperar o foco para projetos maiores.
4. Cuidado com as primeiras horas do dia
Evite mergulhar nas redes logo ao acordar. Isso determina o tom do seu dia.
Comece com algo mais lento: uma leitura, uma oração, uma caminhada.
5. Crie Ambientes de Foco
Desative notificações, use fones com música ambiente, combine momentos de estudo com colegas.
O foco é frágil — proteja-o como algo precioso.
Uma mensagem qualquer pessoa que esteja lendo Isso
Você não está fracassando.
Você está sobrecarregado.
E não está sozinho nisso.
Há saída.
Requer escolhas conscientes, pequenos passos, hábitos saudáveis. Você pode, sim, recuperar sua clareza mental, sua energia e sua capacidade de realizar.
Comece pequeno.
Comece hoje.
A cada escolha que resiste ao impulso imediato, você está dizendo ao seu cérebro: “Eu estou no comando.” E essa sensação, acredite, é transformadora.
Sonhos não morrem, apenas adormecem
Vejo todos os dias jovens que acham que desistiram dos seus sonhos. Mas, na verdade, eles só estão adormecidos sob uma camada grossa de distrações. E sonhos, quando acordam, têm uma força imensa.
Então, se você sente que está longe do que queria ser, não desista. Faça silêncio, respire fundo, desconecte-se do ruído…
O que você procura pode estar logo ali, do outro lado da notificação.
A sua mente ainda é sua. Só precisa de espaço para respirar — e um pouco de esforço para recuperar o foco.
Se este texto tocou algo em você, compartilhe.
Pode ser o primeiro passo para alguém que precisa despertar também.
Com carinho e esperança,
Um professor que ainda acredita nos seus sonhos.
Robison Sá.
Este conteúdo é baseado em observações pessoais do autor como educador. Não substitui aconselhamento psicológico, médico ou psiquiátrico.
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Pergundas Frequentes (FAQ)
Por que está cada vez mais difícil manter o foco?
O excesso de estímulos digitais — como redes sociais, notificações e vídeos curtos — condiciona o cérebro a buscar recompensas rápidas. Isso reduz a tolerância ao tédio e à concentração, tornando difícil manter o foco em atividades que exigem esforço contínuo.
O que a dopamina tem a ver com a falta de foco?
A dopamina está ligada ao prazer e à motivação. Quando consumimos estímulos digitais em excesso, treinamos o cérebro a buscar apenas recompensas imediatas. Isso afeta diretamente a capacidade de recuperar o foco em tarefas mais longas e profundas.
Como posso recuperar o foco no meu dia a dia?
Práticas simples como evitar o celular nas primeiras horas do dia, fazer pequenos períodos de silêncio, recompensar o esforço e limitar a dopamina fácil (como vídeos e redes sociais) ajudam a treinar novamente a mente para o foco.
O vício em redes sociais realmente afeta o foco?
Sim. Estudos mostram que o uso excessivo de redes sociais está associado à perda de atenção, aumento da ansiedade e menor capacidade de foco. O hábito de checar notificações constantemente fragmenta o tempo e dispersa a mente.
É possível treinar o cérebro para ter mais foco?
Sim! O cérebro é plástico, o que significa que pode ser reeducado. Ao criar rotinas saudáveis, praticar atenção plena e reduzir os estímulos digitais, é possível recuperar o foco e melhorar a produtividade.