
Nas redes sociais, o roteiro é o mesmo: mesas fartas, sorrisos clareados no filtro e famílias que parecem ter saído de um comercial de margarina. Mas eu sei o que acontece quando o flash apaga. Eu já vi esse olhar em sala de aula, naquela semana que antecede as férias. É o olhar de quem teme o silêncio da própria casa ou, pior, o barulho de uma família que grita, mas não se escuta.
Isso é que chamo de solidão acompanhada: aquela sensação terrível de estar rodeado de pessoas (numa mesa de Natal cheia, numa sala de aula barulhenta ou numa festa), mas sentir-se completamente sozinho por dentro.
A ditadura das aparências nos convenceu de que, se você não está radiante no dia 25, você falhou. Mas se buscarmos o verdadeiro significado do Natal, aquele que ficou soterrado por camadas de marketing e papais noéis de shopping, vamos descobrir que ele é exatamente o oposto disso.
É claro que, como escrevi em artigo anterior, A Liderança de Shackleton, devemos, sim, celebrar, pois as celebrações formam a estrutura que impede o teto de desabar sobre nossas cabeças. Isso porque a mente humana anseia por previsibilidade, principalmente em situações caóticas, por paz, por segurança. Mas isso não significa colorir a primeira camada da vida e deixar a segunda camada em escala de cinza.
A segunda camada da manjedoura
A história original não aconteceu em um palácio. Ela começou com um “não”.
Não havia lugar na estalagem.
Houve invisibilidade.
Houve o cheiro de palha e de animais.
O nascimento mais celebrado da humanidade aconteceu no meio do improviso e do desconforto.
Se você se sente deslocado, se sente que não encaixa nos padrões ou se a sua família é um quebra-cabeça com peças faltando, saiba que este cenário é o berço do verdadeiro significado do Natal.
O Natal não é sobre a celebração do que está pronto; ele é sobre a esperança que nasce justamente onde tudo parece inacabado. É sobre a luz que insiste em brilhar no meio do tijolo aparente da nossa alma. É sobre, como nos ensinou o educador Paulo Freire, em seu maravilhoso livro Pedagogia da Esperança, ESPERANÇAR.

O analfabetismo emocional na ceia
Lutamos contra um inimigo silencioso nesta época: a ideia de que presentes substituem a presença.
Muitos pais, por não saberem lidar com as dores dos filhos, ou com as suas próprias, tentam comprar o perdão em parcelas no cartão de crédito.
Sabe o que resulta disso? Jovens com o quarto cheio de gadgets, mas com o peito vazio de significado.
Precisamos entender que a ceia mais importante não é a que está sobre a mesa, mas a que acontece no nível da escuta. É a coragem de olhar para quem está ao seu lado e perguntar: “Eu sei que você está aqui, mas como você está aí dentro?”
O ritual da presença real
Para não ser engolido pelo vazio das festas e resgatar o verdadeiro sentido do Natal na sua vida, sugiro um método simples de três passos para aplicar nesta semana (e na vida inteira):
- Pare de comparar os seus bastidores com o palco dos outros. O Instagram mente. A vida real acontece no tédio e na imperfeição.
- Escolha uma pessoa na sua família (pode ser aquele avô esquecido no canto ou o irmão que só fica no celular) e faça uma pergunta de segunda camada a ela. Algo como: “Qual foi a coisa mais difícil que você superou este ano e que ninguém viu?”.
- O Natal passa, a rotina fica. Use esses dias para desenhar seu Projeto de Vida para o próximo ano. Não espere o dia 1º de janeiro. A clareza é o melhor remédio para a ansiedade.

Um convite à vida…
Aproveite esses dias para viver experiências incríveis, que ficarão gravadas em suas memórias. Esteja presente, realmente presente, desligado do que está longe, ligado no que está bem na sua frente.
Viver com intensidade não singnifica fazer qualquer coisa que nos vier à mente, mas fazer aquilo que realmente nos trará significado, paz de espírito, autoconhecimento e conhecimento do mundo ao nosso redor. É viver com bondade e empatia. É praticar o perdão, a compaixão, inclusive em favor de si mesmo.
Verdadeiramente… VIVA!
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Com carinho,
Robison Sá.☕








